História de Timor-Leste

História de Timor-Leste

     O primeiro povo a chegar a Timor, entre 40.000 e 20.000 a.C., foi o dos Vedo-Australóides, semelhantes aos Vedas do Ceilão, segundo as investigações antropológicas.
     Seguiram-se os Melanésios por volta dos 3.000 a.C., semelhantes aos que actualmente vivem na Papua Nova-Guiné e em algumas Ilhas do Pacífico. É possível que, devido à natureza montanhosa do país, não se tenham misturado com os habitantes locais, que se tinham retirado para as regiões inóspitas do interior. Esta circunstância poderá estar na origem da diversidade linguística em Timor-Leste.
     Uma terceira vaga de imigrantes deu-se em 2.500 a.C., os chamados ‘proto-malaios’ – povos oriundos do Sul da China e da Indochina do Norte. No presente, os chineses, sobretudo os Hakka, continuam a ser uma das comunidades mais importantes, ligada ao comércio em Timor-Leste.
Há documentos que comprovam a existência de um comércio esporádico entre Timor e a China a partir do século VII, ainda que baseado sobretudo na venda de escravos, cera de abelha e sândalo – madeira nobre utilizada na fabricação de móveis de luxo e na perfumaria -, que cobria praticamente toda a ilha.
Por volta do século XIV, os habitantes de Timor pagavam tributo ao Reino de Java. O nome Timor provém do nome dado pelos Malaios à Ilha onde está situado o país, Timur, que significa Leste.
A chegada dos portugueses a Timor
      Os portugueses chegaram à costa de Timor, nomeadamente onde agora se encontra o enclave do Oecusse, por volta de 1515. Fizeram grandes lucros através da exportação de madeira de sândalo, tendo-se verificado uma exploração intensiva deste recurso. Em 1815, quando a madeira de sândalo ficou praticamente extinta, os Portugueses deram início à exploração de plantações de café, cana-de-açúcar e algodão. A cera e o mel também eram considerados produtos com interesse. A formação do comércio local esteve na origem de casamentos com famílias reais locais, contribuindo para a diversidade étnico-cultural.
Com os Portugueses vieram os missionários e a religião católica, predominante. Com a chegada do primeiro governador, vindo de Portugal em 1702, deu-se início à organização colonial do território, criando-se o Timor Português.
O Tratado das Fronteiras de 1904 entre Portugal e a Holanda, vigente a partir de 1916, terminou com as disputas territoriais entre os dois países, fixando as fronteiras que hoje dividem a ilha.
     Com o início da II Guerra Mundial, os australianos e os holandeses, conscientes da importância de Timor como zona tampão, aterraram em Díli apesar dos protestos portugueses. Em Fevereiro de 1942, o Japão usou a presença dos australianos como pretexto para invadir Timor, onde permaneceu até Setembro de 1945.
     Aquando do final da guerra, Timor estava em ruínas. Cerca de 50.000 timorenses perderam a vida durante a ocupação dos japoneses e devido aos seus esforços em resistir aos invasores e em proteger a Austrália. O povo foi também forçado a dar alimentos aos japoneses. Por conseguinte, aquando da rendição dos japoneses, o cenário em Timor era de miséria humana e devastação.
O fim do colonialismo português
     Os timorenses e os portugueses tentaram reconstruir o país. Mas o desenvolvimento era lento. A taxa de crescimento anual entre 1953 e 1962 era apenas de 2%. Entretanto, as Nações Unidas declaram Timor-Leste como sendo um território não-autónomo, sob administração portuguesa. Portugal governou Timor-Leste de forma directa e indirecta, administrando a população como um todo através das estruturas tradicionais de poder, em vez de empregar os funcionários civis da colónia. Este modelo de governação deixou a sociedade tradicional timorense praticamente intacta.
  Em 1974, a ‘transição para a democracia’ em Portugal teve um impacto imediato em todas as suas colónias. O ambiente político em Portugal era de esquerda e, pela primeira vez, aos timorenses foi dada liberdade para criarem os seus próprios partidos políticos.
     A 11 de Agosto de 1975, os partidos timorenses mais conservadores deram corpo a um golpe, na tentativa de retirar o poder aos portugueses e prevenir a ascendência do partido de esquerda, a Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (FRETILIN).
     Os conflitos entre os dois principais adversários timorenses deram origem a violência, que resultou em mais de 2.000 mortos.
     A 28 de Novembro de 1975, a FRETILIN deu a Timor-Leste a designação de República Democrática de Timor-Leste (RDTL) e auto-proclamou a independência, elegendo como primeiro Presidente Xavier do Amaral. A RDTL foi reconhecida por alguns países, nomeadamente pelas antigas colónias portuguesas, mas teve curta duração. Dez dias mais tarde, a 7 de Dezembro de 1975, as tropas indonésias invadiram Timor.
Ocupação indonésia
     Cerca de 60.000 pessoas perderam a vida nos primeiros anos da anexação indonésia, tendo-se contabilizado cerca de 200.000 mortes durante todo o período de ocupação (um terço da população). Nicolau Lobato – herói nacional -, que sucedeu a Xavier do Amaral como Presidente da RDTL e Comandante das FALINTIL, foi morto em combate a 31 de Dezembro de 1978
     O ‘Massacre de Santa Cruz’ foi um ponto de viragem face à ocupação brutal de Timor-Leste, enquanto as imagens chocantes eram emitidas em todo o mundo. Os governos e as organizações internacionais começaram a sofrer pressões a favor de Timor-Leste.
     A detenção do líder da resistência, Xanana Gusmão, em 1992, dirigiu também o foco para a violação dos direitos humanos verificada em Timor.
     A Indonésia deu consigo numa situação cada vez mais difícil, que culminou em Outubro de 1996, com a atribuição do Prémio Nobel da Paz a dois líderes timorenses, o Bispo Ximenes Belo e José Ramos-Horta. Este reconhecimento resultou numa crescente afirmação do movimento pela independência.
     Mais tarde, entre 1997 e 1998, a Nova Ordem de Suharto foi abalada por uma grave crise económica que levou à propagação das exigências relativas a uma mudança política. Suharto foi forçado a resignar, tendo sido substituído pelo seu vice-Presidente, Dr. Habibie.
Referendo pela liberdade
     A 5 de Maio de 1999 foi finalmente acordada a realização de uma consulta popular em Timor-Leste, sob o auspício do então Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan.
     As Nações Unidas deram início aos preparativos para uma consulta popular, estabelecendo a Missão das Nações Unidas em Timor-Leste, a UNAMET. A 3 de Junho de 1999, as Nações Unidas ergueram a sua bandeira em solo de Timor-Leste. A 30 de Agosto de 1999, a esmagadora maioria do povo de Timor-Leste – 78% – votou pela independência.
     Milícias pró-integracionistas e forças armadas indonésias responderam com grande brutalidade, atacando e pilhando todo o país. Um terço da população teve de se abrigar em campos de refugiados em Timor Ocidental e ilhas vizinhas. Um outro terço refugiou-se nas montanhas de Timor-Leste. Foram registadas cerca de 1.000 a 2.000 mortes e a destruição de 90 por cento das infra-estruturas.
     O Conselho de Segurança das Nações Unidas autorizou a entrada de uma força multinacional, a INTERFET, liderada pela Austrália, para restaurar a paz e a segurança. As Nações Unidas lançaram também uma extensa operação humanitária.
     A 25 Outubro de 1999, o Conselho de Segurança das Nações Unidas estabeleceu a Administração Transitória das Nações Unidas em Timor-Leste (UNTAET) como uma operação de paz integrada e multidimensional, responsável pela administração de Timor-Leste durante a transição para a independência.
 Independência
     A 30 de Agosto de 2001, Timor-Leste organizou as suas primeiras eleições livres – para nomear os deputados responsáveis pelo desenvolvimento de uma nova Constituição.
     A 20 de Maio, Timor-Leste tornou-se a mais recente democracia do mundo e o primeiro país do terceiro milénio. As celebrações tiveram lugar em Tasi Tolu, à saída de Díli. À meia-noite, a 19 de Maio, foi erguida a bandeira de Timor-Leste, cantou-se o hino nacional e a longa luta de Timor-Leste pela liberdade deu-se por terminada.

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